Daí eu li a primeira postagem, novamente...
(em tempo: Escadas Para..., o primeiro)
E aí me ocorre que ainda é a mesma coisa... mesmo sendo tão diferente. Então, como presente para nós, no primeiro aniversário do "Escadas Para..." vamos continuar na maré dos sonhos e mergulhar numa postagem que está sendo preparada há muito. Dois camaradas do peito, inteligentíssimos, foram convidados para criar textos sobre um mesmo assunto. Como os dois primeiros convidados do "Escadas Para...", é muita alegria e satisfação dar as boas-vindas à eles: Paulo César e CP (assim quiseram ser identificados).
À seguir, três textos com suas imagens selecionadas pelos respectivos autores. Assim sendo, dados os parabéns ao nosso (bom, ao menos "meu") adorado blog, que venha a próxima loucura.
Reflexões Sobre o Zoo
Boa viagem à todos. Nosso primeiro convidado, CP:
1. Zoológico
Nós seres humanos somos muito diferentes dos outros animais, mas também somos muito parecidos, é tudo uma questão de perspectiva e zoom, podemos classificar tudo de formas distintas e contrárias.
Podemos ser classificados muito diferentes pois construímos prédios e pontes gigantes, mas podemos ser considerados muito próximos pois em algum ponto temos ancestrais em comum e isso forma uma grande família chamada vida terrestre, talvez uma família maior ainda, galática ou universal, somos todos conectados em algum ponto e diferentes em outros.
Então essa classificação não faz nenhum sentido se não a organização entre nós mesmos e não a verdade lá fora.
Conforme a evolução da sociedade uma característica se destaca, a visão “extra corporal”, nós podemos nos colocar no lugar dos outros e entender se uma situação é justa ou não, isso se fez muito importante para o convívio humano, construindo assim uma noção de justiça e bom senso, e esse “próximo” que me refiro, vai ficando cada vez mais amplo.
Há 1000 anos esse senso de justiça não se aplicava muito além da família ou no máximo uma tribo pequena, com o tempo esse senso foi abrangendo mais e mais pessoas.
Hoje discriminação racial já não é tão comum assim, homofobia já não é natural e o cuidado com ate mesmo outras espécies se acentuou, hoje existem muitas pessoas que se negam a comer carne de animais.
É a partir deste senso que nos dói o coração ver animais atrás de grades num zoológico, quando conseguimos nos colocar no lugar deles e entender que não é justo prender um “indivíduo” para o deleite de outros.
Não seria possível achar uma forma mais pacifica de convívio? É certo condenar um animal a viver sua vida toda preso, para que todas as quartas-séries possam olhar para eles e voltar para seus lares?
Escolha do autor (HUAHUAHUA, CP num presta) |
por CP
A vez de Paulo:
2. A Problemática do Zoo
O ser humano se distanciou da natureza, cercou-se de asfalto e ergueu suas cidades onde dantes figuravam onipotentes faunas e floras vastas e diversas. Temos essa tendência: submetemos tudo, inclusive nossos semelhantes. Nós nos fugimos do que é natural de tal maneira, que o que pertence a natureza chega a nos soar estranho e repulsivo. É como se, irônicamente, não fizessemos mais parte da mesma.
O ser humano submete e o ser humano se arrepende.
Cansamos de ver a humanidade tentando recuperar sua consciência, e é assim que eu vejo o zoológico. Uma falha tentativa de reaproximação. Existem duas maneiras usuais de ver tal entidade: Ela enquanto instituição de entrenimento (função essa totalmente criminosa e condenável, e por aqui somente destaco que outro ser não pode em hipotese nenhuma ser obrigado a entreter outros, sendo para isso, retirado de ser habitat e 'rotina') e ela como uma possibilidade da humanidade cada vez mais artificial entrar em contato com aquilo que é natural e selvagem.
É ai que a discussão toma a profundidade não aparentada em primeira instância.
O animal em si, o tratamento oferecido e a liberdade do mesmo, tudo isso, é colocado em xeque e, em casos onde não existe uma proposta de preservação da espécie é apenas uma mera exibição ao homem, enclausurado, como um troféu, uma amostra de superioridade e prova da supremacia humana sobre a natureza, que a molda a seu bel-prazer.
Mais do que questionar uma possivel proibição dos zoológicos, olhar para o mesmo como consequência de uma opção da humanidade: opção por viver em bolhas de pedra. Olhar pra essa chaga é perceber mais uma tosse da humanidade doente, que de maneiras distintas demonstra os sinais tuberculosos do seu crescimento.
Por mostrar essa face isolada que a humanidade assumiu, um Zoológico explica sua existência. Por privar a liberdade de seres vivos, ele a condena.
Paulo César
E, por fim, pitacos de "Moi".
3. Você já foi ao Zoo hoje?
Fui ao zoológico recentemente. Qualidade das jaulas e proporção ao tamanho, para algumas espécies, não pareceram extamente corretas, na sua maioria muito menores do que o devido. No entanto, sobre esta questão, o quanto ou o que é "devido"?
O que é, para começar, um zoológico? A pesquisa Google/Wikipedia, neste sentido, tráz respostas interessantes (pessoalmente, acho que a wikipedia em inglês possui ótimas fontes e recomendaçãos de links e artigos, em uma boa quantidade de artigos (mas busque além, também, para compreensão condizente com realidade)). Desde o começo, no entanto, de maneira geral, com a mesma função de entretenimento.
Partindo da aceitação filosófica de que um zoológico só pode conservar sua verdadeira intenção conceitual se mantida e voltada para apreciação e/ou interação humana, o que significa um zoológico para as espécies e espécimes mantidas do lado de lá das jaulas?
Será o conhecimento adquirido pela convivência com os indivíduos, incentivadas as ações de parceria entre zoológicos e intitutos de educação, como universidades, e que possibilite maior preservação e acompanhamento de suas respectivas espécies, mais valioso que o enclausuramento de certos espécimes?
Será o valor da vida pessoal de cada indivíduo capturado e mantido em cativeiro muito menor do que os benefícios trazidos pela interação mais tangível e substancial que a maioria dos humanos pode ter com nossos companheiros de vida, outras espécies?
Quando se fala de tratamento "devido" à um animal selvagem enclausurado, existe algo realmente "não indevido", partindo do fato de que aquele animal nem deveria ali estar? E ao mesmo tempo, quando se olha aos olhos de um tigre e recebe o olhar novamente e se entende, com seus próprios sentidos, uma outra forma de vida totalmente inesperada, quanto não valeria tê-lo ali, aquele ser de (quase) outro mundo?
Quão certo é um aspecto em relação ao outro? Como pesar dois aspectos tão distintos e decidir-se, de maneira ética e filosófica, sobre a validade ou não de uma prisão de animais, ou da validade de uma chance de se ver e ouvir o que seria de outra forma invisível e inaudível. Como pesar o conhecimento adquirido contra dor causada?
Você já foi ao zoológico hoje?
Pedro Cescon
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Parabéns ao "Escadas Para..." e, de mim, Pedro Cescon, meus mais sinceros agradecimentos pela presença de vocês, leitores. Espero que possamos continuar buscando escadas para qualquer lugar que queiramos pelo tempo que possamos percorrê-las.
Até a próxima!
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